o projeto

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*Se foi você que fez (ou conhece quem fez) esta foto do David, entre em contato com a gente, que daremos o devido crédito.


O Arquivo Bira David começou a ser pensado em 2019, a partir do desejo da Gil (Giselda Marcolina da Silva), mãe do artista, de fazer uma exposição com suas fotos. Recebi o convite para fazer a curadoria da exposição e assim iniciou-se a pesquisa em torno dos arquivos digitais do David, que nos deixou precocemente aos 32 anos, em 2018. O conteúdo estava disperso em vários HDs que continham fotografias e vídeos realizados entre 2009 e 2018. O material foi organizado cronologicamente e separado por eventos. Esta triagem inicial foi realizada por dois parceiros de trabalho do David: o primo Alexandre Marcondes e o amigo Victor Naine. O Arquivo chegou nas minhas mãos em um único HD, já catalogado de acordo com este critério. A minha intenção neste primeiro momento foi me colocar diante do Arquivo e buscar ouvir o que ele tinha a me dizer. Comecei a abrir todas as pastas, olhando arquivo por arquivo, tentando entender os caminhos trilhados por David. Como se costuma dizer, a vida de um artista é infinita, porque segue vibrando em seus trabalhos. A quantidade de material era enorme: 4,42 TB de conteúdo. O HD me foi disponibilizado em março de 2020. Diante da impossibilidade de fazermos uma exposição presencial, por decorrência da pandemia da Covid-19, formatamos o projeto pensando em uma plataforma digital (que inclui um site e páginas no Facebook, Instagram e Spotify) e uma intervenção urbana. Duas alternativas seguras para que o trabalho do David pudesse ser acessado sem riscos ao público.

Com o avançar da pesquisa, foi possível reconhecer alguns padrões nas imagens. Uma atração pelo corpo, sobretudo por pés, e tatuagens. Um olhar fragmentador, o corte na composição, a atenção sobre o detalhe, comentários de humor e o gosto pela arte e viagens. A partir da identificação de parâmetros, a edição de imagens se deu em torno das palavras-chave: arte, corpos, DJ, festa, mundo, humor, pés, shows e tattoo. Cada palavra-chave compõe uma galeria de fotos.

O trabalho sobre um acervo é permeado por escolhas e sempre deixará lacunas. Do mesmo modo que o artista escolhe o tema, o enquadramento, as cores, entre as inúmeras possibilidades diante do clique, o desafio aqui foi também empreender escolhas diante do conteúdo reunido. A edição para a realização do site centrou-se nas fotografias. A intenção foi apresentar um recorte do David fotógrafo. Digo um recorte porque não se teve o propósito de uma seleção totalizante de sua produção. O desejo foi uma escolha poética e não a apresentação de um portfólio. Diante da ausência do artista, a responsabilidade sobre as escolhas de cada ponto do projeto ganha uma outra dimensão. Nem todas as imagens guardadas no Arquivo estavam tratadas, mas havia muitas pastas com grupos de fotos com tratamento. A partir desta observação, optamos por fazer o tratamento das imagens escolhidas de acordo com o padrão utilizado pelo fotógrafo.

As galerias do site jogam com o acaso: ele é fator propositivo de narrativas, consequência da sucessão de fotogramas. O movimento gerado pela troca aleatória de imagens sugere, a cada acesso, um novo filme acidental. Para completar a experiência cinematográfica, acrescentamos uma trilha sonora ao site. Uma página no Spotify foi criada, que abrigará playlists desenvolvidas por DJ e artistas próximos ao David. A primeira convidada foi a Carol (Ana Carolina Senna), artista ilustradora muito querida do David.

O site é composto também por uma página de vídeos, realizados pela produtora independente Macarronada e pela empresa I Hate Flash. A intenção deste campo foi oferecer um bônus. A seleção dos vídeos partiu de produções que marcaram a memória de sua mãe, Giselda, e de sua tia/madrinha, Gigi.

Entendo a proposta da intervenção urbana alinhada à estética do David. A compreensão de que esta ação na cidade faz parte dos códigos de desobediência civil gera um movimento que vai ao encontro das intenções do trabalho dele. A instalação das fotos traz a energia da rua para o projeto e sua realização leva o David para dar um rolé pela cidade.

Sabemos que esta leitura do trabalho do David é particular e, se tivesse sido feita pelo próprio artista ou por outa equipe, o resultado seria outro. Esta é a beleza do trabalho sobre arquivo: a possibilidade de múltiplas abordagens. O Arquivo Bira David segue vibrante e pronto para ser acessado. Pedimos licença, com todo o respeito a ele, para imprimir nossa interferência e abrirmos caminho para a possibilidade de futuras ações.

Gabriela Caspary
Março de 2021

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A marca do Arquivo Bira David partiu da ideia de produzir uma simulação da assinatura do artista. As letras que compõem esta marca foram retiradas do seu caderno de estudo dos tempos da escola de cinema Darcy Ribeiro, em posse de sua tia/madrinha.

Basta abrir uma página do caderno, para perceber que as letras mais parecem hieroglifos e, para serem ‘decifradas’, é necessário absorver, de certa forma, o seu padrão. É uma forma de escrita, de fato, singular. Sem interferência alguma, a letra do David já é, por si, um tipo, uma fonte.

As letras foram recortadas uma a uma, para, juntas, numa colagem, tornarem-se a (agora) marca bira david. Um processo que teve total sintonia com a forma como o próprio Arquivo Bira David se apresenta: uma colagem dos padrões que foram reconhecidos em seu trabalho. A marca é, também, formada por fragmentos, desenhando um retrato seu.

ficha técnica
arquivo bira david


Patrocínio e realização:
Giselda Marcolina da Silva


Coordenação e direção de arte:
Gabriela Caspary


Textos:
Gigi Silva


Web design e tratamento de imagens:
Ricardo Vieira


Tecnologia e implementação:
Paulo Lima


Edição e tratamento de imagens:
Isolda Kamita


Audiovisual e registros fotográficos:
Alex Araripe


Trilha sonora original do Arquivo:
Rodrigo Marçal


Impressão e instalação
da intervenção urbana:
Wagner Guerra - Guerra Divulgação e Produção


Campanha de divulgação online
(implementação e tracking):
Fato Social


Catalogação do Arquivo Bira David:
Alexandre Marcondes e Victor Naine


Consultor de conteúdo para minibio:
Rafael Lemos


Convidados para a confecção das playlists:
Ana Carolina Senna